quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Há gosto

há gosto de sangue
no mês que acaba,
há gosto de saudade
no barulho da bala.

há gosto de tristeza
na lágrima que cala,
há gosto de silêncio
na terra, na vala.

há gosto de desgosto
de não poder fazer nada,
há gosto de setembros
só assim esse mês acaba!

.............. (com pesar por dois alunos que se foram em menos de um mês...)

.

Bebedeira

A estante de livros caída no chão.
Os livros no chão.
Tudo que não li...
Tudo que não vi...
O "Canto Geral" esmagando os cigarros
que não fumei.
A garrafa ainda no lacre
despedaçada em mil.
O uísque embebedando os livros,
todos eles...
Neruda, Vinícius e Bukowski
deitados no chão,
encharcados no chão...
E eu ali, ironicamente,
sento-me numa cadeira,
salvo alguns poucos inocentes
e adimiro com pesar
esta grande bebedeira...

domingo, 23 de agosto de 2009

Primeira aventura - num qualquer lugar do Recife

Depois de tanto imaginar
teus seios em outros seios,
aqui estamos nós três,
frente a frente...
a agora as palavras somem
(melhor assim...)
e como num momento mágico
e único
nos contemplamos
surpresos da beleza
depois de tanto imaginar
o carinho nos teus seios
agora é tudo azul pra mim,
o céu desceu e ficou entre nós
e nesse celeste e infinito silêncio
ficamos,
e ficamos assim,
porque a partir daí
só as mãos e os corpos
se comunicavam
num silêncio eterno e azul
que não exige as palavras...

Segunda aventura - ainda o silêncio

Na noite o silêncio é agudo
e as palavras, todas elas, mesmo as mais complicadas,
não dizem nada
porque no silêncio da noite
a linguagem camal
só aceita toques e sussurros
exagerados ou não...
na linguagem camal
tudo é foda mesmo!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Escapei do poema

Escapei do poema
como quem se salva
das garras de um inimigo
ou dos braços do amigo pidão.

Escapei do poema,
o deixei na metade
de um caminho.

Troquei o poema
pela verdade.

troquei o silêncio da poesia
pela poesia de um sorriso,
sorriso bom de mulher...

aí o que era poesia
transbordou pelo chão
e seu barulho ecoou,
e deixando de ser eu,
escapando até de mim,
como quem se salva
da beira de um abismo.

Foi assim,
quando de um poema seco,
Você me salvou
sem que eu dissesse nada...