domingo, 26 de julho de 2009

Ao Mestre com carinho ou a sétima lágrima não vertida




Sei que deveria deixar de lado o caráter pessoal dos textos postados, mas não há como deixar de dividir com os poucos e seletos visitantes deste blog o sentimento vivido no último sábado (25) por mim e minha turma de pós graduação na Fafire.

Era manhã de sábado, e tinha tudo para ser somente mais um sábado, não fosse aquele o último dia de aula da disciplina de análise do discurso poético, ministrada pelo Professor Lourival Holanda (foto). Naquele dia, por motivos de saúde eu havia chegado atrasado. Aula transcorrendo normal, mas quando ensaiava olhar meus colegas, percebia várias vezes um ar de saudade, que não era de despedida, mas saudade de uma presença, presença muito forte e firme daquele que não é um professor tão somente. Este ar de saudade invadiu a sala e nos semblantes até mais fortes poderíamos notar a saudade daquela voz, daquele olhar de Lourival, que diz tudo sem falar nada, saudades de suas pausas poéticas traduzindo a poesia sem utilizar as palavras. Por isso lhe fogem as palavras, é para amadurecer em nosso íntimo a palavra poesia.
Vozes poéticas era o tema, poesia na música. Que encerramento notável. Feito para emocionar, para acordar a saudade e a poesia dormente. O intervalo teve sabor de aproximação, meus amigos ali ao redor daquela figura sem igual, buscando as últimas migalhas de presença, de voz, de matéria, buscando somente ficar junto do Mestre... Talvez ele me chamasse de covarde ao saber que fugi da presença de todos no intervalo, após o lanche coletivo que fazemos juntos, fugi, fui ao shopping que fica próximo e andei sem destino, num vazio que parecia não ter fim. Várias voltas depois no horizonte das vitrines resolvi voltar. Na sala já, falei brevemente com alguns colegas, falei inclusive com o Professor... era na verdade uma dica a mais sobre Carlos Pena Filho, o qual desejo pesquisar para fazer a monografia, e ele, sempre solícito me forneceu ali mesmo, algum material...
Ao final da aula, todos pareciam em êxtase, enfim chegara o encerramento da disciplina, momento que eu não estava pronto (estudei quatro anos na UFPE e nunca em nenhuma disciplina tive a sorte de estudar com Lourival). Poucas semanas, ingratas semanas... Enfim, o professor dá a vez para que falemos sobre as impressões, as falas que encerrariam a jornada até ali. Não foi novidade que as palavras fossem de satisfação pela aula e pela agradável presença de Lourival. O que me foi novidade naquele momento tão sublime é que esperei cair uma lágrima, não minha mas, de um colega de classe, Gilles. Antes da fala do nobre colega, já em tons vermelhos claros. Observei, quase em contemplação as quatro lágrimas pesadas de Kênia, e que peso elas tinham. Traziam as lágrimas o peso de toda a poesia guardada desde o primeiro dia de aula. Eram tão pesadas mas souberam se extinguir na palma de sua mão trêmula e Kênia guardou só para ela aquela poesia.
Não havia eu reparado pela sutileza de Roberta por trás de seus óculos nada sutis. Também ela soube verter mais duas lágrimas, não tão pesadas assim, mas que pareciam as lágrimas de um meninos que vê da sua gaiola quebrada voar sorridente aquele pássaro de tão grande importância para tal menino. E aquelas duas lágrimas silenciosas lentamente beijaram as bochechas de Roberta como um beijo da saudade dizendo “cheguei e vou ficar!”. Silenciosas eram elas mas ainda as pude captar.
Só não mirei de verdade a sétima lágrima, talvez ela tenha se guardado pela macheza de um rapaz que não tinha alma e passou a tê-la depois desses encontros poéticos. Gilles falou o que cada um queria falar ali. Da humildade e da grandeza de um professor que se tornou símbolo e exemplo por muito ensinar, sem tratar nenhum de nós como alunos somente, mas como futuros pesquisadores, mestres e ensinando quem sabe, a sermos poetas com uma visão mais afinada com o sentimento do mundo.
Não vi a sétima lágrima, talvez ela tenha até banhado, no silêncio, o rosto do nobre colega. Mas sei que ela estava lá. Guardada e pesada de muitas poesias também. Com um egoísmo plausível, não foi dividida conosco.
Não vou aqui tentar desenhar a mágica daquele momento. Seria muito pouco possível narrar todo o sentimento. Só vivenciando da presença de Lourival Holanda é que se pode entender que apesar da humildade, todos sabem que se trata de um condensador de poesia. É nele que se concentram os estímulos de ser poeta e de se ter alma. Ao Mestre com carinho dedicamos nossos agradecimentos por existir e por nos permitir ver com nossos olhos o que de sentimento existe em cada palavra, em cada objeto em cada coisa que nos circunda. Ao mestre um abraço arrochado feito nó de navio, cumprido e preciso feito língua de manicure.
(gostaram da quebra de ritmo?).
....................................................................................................Gerferson Neftali

4 comentários:

  1. Quando li não só duas, mas várias lágrimas correram pelos meus olhos e beijaram minhas bochechas.
    LINDO!!!

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  2. Coloquei o link do teu texto lá no meu blog, tá? Escrevesse tudo o que queria escrever sobre aquele dia. OBRIGADA!

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  3. Perfeito, Gerferson!! Descrevestes perfeitamente nossa sensação na última aula do professor Lourival!!!
    Parabéns por saber transformar tão belos sentimentos em palavras e textos!!
    Ps.: gostei do finalzinho...!

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  4. Oi Gerferson! parece que os bons ventos me trouxeram até você (rs). Gostei tanto que já estou te seguindo. Deixei um recadinho na postagem do dia 14/08. Abraço.
    Paula Érica

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